Donde os 3 mil cruzados?





A D. Perpétua Luísa foi a última a casar das três sobrinhas do Cónego Ribeiro Nunes. Casou um pouco tardiamente, no ano de 1747, pois tinha então cerca de 38 anos de idade. O tio Cón. Domingos, falecido em 1744, e que não chegou a lograr o contentamento de ver esta sobrinha consorciada com um membro da família dos Macedos Leites e Melos. Trata-se dum Cavaleiro que foi professo na Ordem de Cristo («com a tença de mil reis»), senhor da Casa e Qta. da Granja — em S. Mart.o de Lagares, no conc.o de Penafiel —, dono também de «todas as quintas, prazos e foros» que haviam pertencido a seus pais.
Este freire de Cristo encontrava-se então em estado de viuvez. Antes de casar com D. Perpétua Luísa, fora legítimo marido de D. Maria Josefa Moreira de Bessa, da Casa da Póvoa, em Pedorido, considerada naquele tempo das principais do conc.o de Paiva.
— Não estará lembrado o leitor de ter visto o Cavaleiro Frei Manuel Leite de Melo (desta forma assina ele em 1747) quando no ano de 1732 tomava parte na cerimónia do casamento de D. Mariana, irmã de D. Perpétua, na Capela da Quinta da Boavista, como testemunha do acto religioso e demais como primo que era, pelo lado materno, do esposado Jerónimo das Quintãs de Valpedre?
— Pois, exactamente, — era esse mesmo!
O referido viúvo Leite de Melo, nos anos de 47, vivia na dita Q.ta da Granja (aqui nasceu em 1684), na companhia de duas irmãs solteiras — D. Francisca Clara e D. Helena Teresa — quando resolveu casar segunda vez com D. Perpétua Luísa.
Como de costume, houve antes do casamento uma escritura dotal. Apesar do tio Cónego Domingos ter falecido e sem embargo de D. Teresa Angélica já se encontrar viúva, essa escritura foi lavrada na Quinta da Boavista, onde D. Perpétua morava há muitos anos. Lá compareceu o tabelião no dia 23 de Maio de 1747.
Estiveram então presentes, duma parte, «Donna Perpetua Luiza…, com seu Irmão, o rev. Domingos Ribeiro Nunes, Cónego na Cathedral»; e da outra, «frei Manuel Leite de Mello, Cavaleiro professo na Ordem de Christo».
Foram três as testemunhas: o P.e Jerónimo de Melo, da freg.a de Cabeça Santa, o Beneficiado da Sé P.e Manuel S.tos Veloso, e o P.e Tomás da Rocha Rebelo, da freg.a de Rans.
Pela sua parte, o Fr. Manuel disse que se dotava com a quinta da Granja, uma fazenda em S. Vic.te do Pinheiro, «duzentas e tantas medidas de segunda e cento e tantas de trigo», acrescentando ainda vários foros, direitos dominicais e prazos.
A soma de todos estes bens representava, naquele tempo, fortuna apreciável. O pior é que estava um tanto comprometida! Mas ouçamos a tal respeito o que disse o próprio Fr. Manuel: «que a dita sua futura esposa lhe dará de entrada tres mi! cruzados para elle esposado pagar as dividas que deve...».
De que fontes teria a noiva auferido os três mil cruzados com que iria solver o Cavaleiro as dívidas que o afrontavam?
— D. Perpétua tinha em guarda essa importância nas mãos de seu irmão Cón. Domingos, proveniente de quinhentos mil réis deixados pelo tio António — falecido no Brasil — acrescidos de seiscentos mil réis que herdou do tio Cónego. Há ainda a acrescentar que ela possuía muitas «pessas de ouro», avaliadas em cento e cincoenta mil réis, e o irmão Cónego também lhe oferecera duzentos mil réis.
E logo o Cón. Domingos, em presença do tabelião e testemunhas, «lanssou sobre hua meza os ditos tres mil cruzados e pela dita esposada e seu futuro marido forão contados... e os acharão certos».
Desta maneira, depois de assinarem todos os presentes, foi dada por finda a escritura de dote de casamento do Cavaleiro Fr. Manuel Leite de Melo com D. Perpétua Luísa.
Por MONAQUINO

 

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