Bons Tempos...




Era minha tenção ocupar-me ainda de uns tantos clérigos crescidos ao calor da residência paroquial de Marecos, em vida do Ab.e F. Coutinho Pereira. Vejo-me, porém, forçado a protelar tal intento, já que favónia monção me leva a mudar de rumo. Arribarei hoje a terras de S. Maria de Peroselo. Espero não incorrer, por via disso, no infamante labéu de oportunista... Vejamos porquê.
Há muito que anseio expandir-me em autênticas vibrações de alma que me brotem lá do fundo da minha adolescência e puerícia, idades em que tanto calcorreei os caminhos e os campos, mai-los montes de Peroselo. Mas não será esse o mote a desenvolver, que me falece a inspiração lírica para tanto. Também já alimentei no passado a veleidade de urdir um pequeno romance de feição histórica, em que entrassem os Reitores e mais Padres desta igreja de S. Maria, em franco e amigo convívio com toda a grei que viveu à sua roda, ao longo de séculos atrás. Da mesma sorte, por míngua de forças, não levei a cabo tão assinalada tarefa.
Andava-me ultimamente a bailar no pensamento, com estranha insistência, a ideia de escrever algum dia um pequeno ensaio sobre a vida sócio-económica da freguesia de Peroselo através de recuados tempos. Neste entrementes, vem a lume, no dia de Páscoa de 71, a nomeação de onze Cónegos para o Cabido da Sé do Porto, a somar aos que já faziam parte dele. Nova tão surpreendente logo me sugeriu encetar aqui um sintético capítulo do almejado projecto, encimado da seguinte epígrafe:
Do contributo que o Clero oriundo de Peroselo dera outrora para o lustre da Catedral portucalense e do proveito social e económico daí resultante para a sua terra e família.
Desta feita é para valer! Mas o núcleo das despretenciosas considerações, que fizer a tal respeito, confinar-se-á tão só dentro dos limites da primeira metade do século XVIII. Afigura-se-me deveras singular que uma freguesia que permaneceu até os nossos dias fechada entres montes quer dizer, privada de modernas vias de comunicação, a ligá-la ao perto e ao longe com centros mais evoluídos lograsse, numa época tão remota, contar nada menos de três Cónegos na Sé do Porto, acompanhados de número apreciável de Beneficiados dentre a sua parentela. Importa lembrar que isso aconteceu num tempo em que uma conezia era muito apetecida, devido ao poder de carácter religioso, social e económico tido nas mãos de um Cabido que dispunha de toda a sorte de influências, sem esquecer que auferia rendas pingues, o que dava possibilidade aos seus membros de receber avultados proventos.
Só me resta acrescentar hoje os nomes desses três Cónegos que nos bons tempos da primeira metade de setecentos tiveram a dita de arranjar assento nos cadeirais da Catedral do Porto. Um Manuel Moreira e dois Domingos Ribeiro Nunes. Que ricos tempos e venturosos Cónegos!
Monaquino

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