Casa de Pegas




Na toponímia do concelho de Penafiel há vários lugares de Pegas e mais que uma casa do mesmo nome. Ninguém duvidará terem sido esses pássaros corvídeos tão vulgares nas regiões nortenhas, chamados pegas que alguma vez se aninharam para sempre naqueles sítios. São topónimos muito velhos!
Em Peroselo, lá se encontre uma Casa de Pegas, no lugar de Outrela, que fica pegado a um monte. No caso presente, não sei por que artes veio à Casa tal designação, mas já me aconteceu topar algures uma morada assim denominada porque nela havia umas pegas, domesticadas e palreiras (isto por lhes terem cortado a trava), as quais andavam à solta e eram atraente passatempo do rapazio das vizinhanças.
Passei outrora amiudadas vezes à porta da Casa de Pegas. Ave corvídea nunca lobriguei lá nenhuma, mas é certo que era frequente quedar-me naquele sítio, por instantes, a pensar nas grandezas antigas da Casa e no infortúnio que um dia a visitara.
Que lhe hei-de eu fazer, leitor amigo, se este jeito que tenho de me pôr a meditar já me vem de nascença? Só há-de morrer comigo.
Casa de Pegas! Tanto sonhara conhecer-te por dentro, quer dizer, percorrer a tua senda familiar, através de várias idades e muitas gerações, mas só agora, na senectude, logro entrar um pouco na intimidade dessa vida plurissecular...
Por deficiências do registo paroquial, apenas nos é dado saber a data dum casamento ali havido no primeiro quartel de seiscentos, posto que se conheçam nomes de antepassados da Casa que remontam com certeza aos primórdios do século de quinhentos. É verdade que, no dia 8 de Dez.o de 1624, se casou Domingos Lopes, de S. Maria de Peroselo, com Natália Fernandes, filha de Sebastião Fernandes e de sua mulher Francisca Rodrigues, da freg.a de S. Romão de Vila Cova de Vez de Aviz, tendo sido dispensados em 3.o e 4.o graus de consanguinidade. Viveram eles em Outrela e tiveram um filho António Lopes, que se recebeu, em 21-11-1644, com Francisca Dias, do mesmo lugar e freg.a.
Foi António Lopes sucessor na Casa de seus pais e houve da sua mulher vários filhos. Além do P.e João Lopes, que faleceu em Peroselo, no ano de 1686; dum Domingos Lopes, casado em Vila Cova com Maria Fernandes, em 1667; duma Isabel Francisca, cujo recebimento com António Mendes, da Casa das Pedras, em Salvador de Gandra, se realizou em 1676; duma Francisca Dias Lopes, que ficou na casa paterna e casou, em 1688, com Tomé Rodrigues, da supradita Casa das Pedras: além desses quatro filhos, importa ainda lembrar aqui um outro, de nome António Lopes, homónimo de seu pai, o qual se casou, a 17-8-1676, com Ana Moreira, filha de Domingos do Couto e de sua mulher Helena Moreira, da Casa da Igreja, em Peroselo.
Quem houver tido a paciência de ler o que se escreveu aqui acerca dos pais do Cónego Santo, com certeza já concluiu que a Ana Moreira foi irmã inteira do Cónego Manuel Moreira. Estudante ainda, ele assistira ao seu casamento, na companhia do que havia ser o futuro Padre João Lopes. As duas Casas a da Igreja e a de Pegas ficaram então bem unidas.
Dilatei-me demais pelo caminho e não posso ir agora até onde me propusera chegar. Indulgentes e compreensivos, os prezados leitores desculparão.
MONAQUINO
In jornal Notícias de Penafiel, 1971-07-09

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