Casa da Granja





No concelho de Penafiel, como acontece em muita outra parte, há várias casas e lugares da Granja. Nem admira que seja assim, ou não tivesse sido sempre a nossa terra — honra lhe seja! — desde tempos pré-históricos, terra de gente grangeeira. Tinha agora a tentação de discretear sobre a etimologia de granja, mas não me consente fazê-lo o receio de longo desvio do tema que me propus versar hoje. Vou restringir-me, pois, a resumido bosquejo da história de uma casa da Granja sita em S. Mart.o de Lagares.
O leitor já terá passado muita vez na estrada que atravessa a freguesia de Lagares, quer de Norte para Sul, se provindo de Fonte Arcada ou Sobreira; quer de Sul para Norte, quando procedente da freguesia de Canelas. Cá por mim, gosto imenso de fazer esse trajecto, em qualquer sentido! Mas descer dos altos de Canelas sempre será mais atraente. Ao começo, vastidão de horizontes; logo adiante, o encanto do tom pardacento do rústico semi-primitivo do aglomerado de Cabroelo, com sua ermida de S. Mateus. Mais abaixo, abre-se em nossa frente, de par em par, o vale de Lagares, com a Senhora da Lapa, em lugar altaneiro. Entretanto nossos olhos prendem-se nos longes da serra de Baltar. Fora de dúvida, é bonito cenário!
Passámos agora junto à igreja da freguesia da Capela, à Casa da Torre e ao típico lugar de S. Julião, com seu oratòriozinho, que já é em parte domínio da freg.a de Lagares. Mais umas centenas de metros e aparece-nos, ao nosso lado esquerdo, a vetusta Casa da Granja, cujo senhorio pertence hoje à família Barbosa da Fonseca de Sousa Andrade. A traça antiga desta moradia não está ainda totalmente desfigurada daquilo que fora no século de setecentos. Só me causa grande dor do coração o estado da Capela, de longa data votada a usos profanos. Esta impressão dolorosa faz-me vir à lembrança a invocação da Capela, dedicada a S. António, bem como o nome da Senhora viúva que a mandou erigir, por volta do ano de 1709: D. Inês Leite Barbosa da Cunha. Foi uma Dona distinta naquele meio aldeão. Decerto lembram-se ainda dum Manuel Leite de Melo, que foi Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, oriundo da Casa da Granja. Era filho de D. Inês e de seu legítimo marido Sebastião de Macedo e Melo Barreto.
Os Melos entraram na Quinta da Granja com Maria de Melo, mulher de Jorge de Oliveira. Desde então ramificaram-se por diversas terras de Penafiel. Os Vieiras de Melo da freg.a da Capela estão ligados a esta Casa.
Com franqueza, ia-me esquecendo de que tinha em mira ocupar-me hoje também do 2.o casamento do Cavaleiro Fr. Manuel Leite de Melo.
Dono da referida Q.ta da Granja — já viúvo de uma Moreira da Casa da Póvoa, em Pedorido — em Maio de 1747, estava noivo de D. Perpétua Luísa, a última a casar das três sobrinhas do Cónego Domingos Ribeiro Nunes. O casamento dos dois realizou-se na igreja da freguesia de S. Ildefonso, em 12 de Junho do dito ano, sem grande pompa, por razões já referidas de outra vez.
Leite de Melo e Perpétua Luísa escolheram para sua residência a Casa da Granja. Não tiveram filhos.
Em Maio do ano de 1753, com a idade de 68 anos, pouco mais ou menos, o marido fizera o seu testamento, que me parece deveras curioso e por isso hei-de oferecer ao amigo leitor uma súmula das «últimas vontades» do Cavaleiro Fr. Manuel.
Espero que não se há-de agastar com isso.
Por MONAQUINO

 

No comments:

Post a Comment