Monte de S. Antão


Num destes dias de sol refulgente, subi pela primeira vez ao Monte de S. Antão. Fui pelo caminho mais curto, depois de chegar ao Calvário. Encantado com a riqueza da paisagem - misto de aspereza e graciosidade - e surpreendido com a largueza do panorama. Mas onde fica situado o Monte de S. Antão? Não é muito conhecido, apesar de ser um braço do Mozinho, que se estende sobre a área de S. Paio da Portela - parte pequena de um grande todo. Queria agora perguntar a mim mesmo se era capaz de subir o Monte por amor das lindas vistas? Não era. A subida é muito íngreme. O que me arrastou para o Alto foi uma força misteriosa que se me entranhou na alma. Foi uma espécie de tentação irresistível de ver de perto e tocar um lugar santo - santificado pela presença, durante séculos, da imagem do Patriarca dos cenobitas, S. Antão, Abade, que ali estivera numa ermidinha, da sua invocação. Era uma ermida do povo. A inclemência do tempo e a incúria dos homens arruinou-a de vez, há cerca de trezentos anos. Não falta documentação que o ateste. A ermida arruinou-se e o Santo perdeu, juntamente com ela, o trono de maravilha que a natureza lhe ofertara. Não sei quem o despediu lá do Alto, donde, dia e noite, deitava a sua bênção aos fregueses de S. Paio e à gente das redondezas e aos animaizinhos entregues à sua guarda. Forçaram-no a descer. E o santo anacoreta, de semblante macerado, foi-se acolher à igreja da freguesia. Talvez por compaixão, ainda lhe deram um lugar de respeito. Segundo leio na memória do Abade de S. Paio, do ano de 1758, a imagem do «Milagroso confessor de Christo Senhor noso S. Antam" encontrava-se colocada, nessa data, no «retavolo» do altar-mor, do lado da Epístola, logo a seguir ao Padroeiro, que estava, como lhe é dado, da parte do Evangelho.
Depois, não sei quando nem porquê, teve de deixar também este lugar tão honroso. Mas ao menos, não o puseram fora da igreja, nem jamais lhe faltou a devoção dos fiéis, que amiúde lhe vão pedir a bênção, com muita Fé. Pior foi o destino de S. Iria que teve de abandonar o seu mosteiro, descer também do Mozinho, e acabar por ser levada para longe da sua terra, sem ter hoje uma única tecedeira que a venere. Um desterro... Não se fazia tal desfeita. Pobres santos, que tão amigos sois do povo e tantas vezes obrigados a andar em bolandas, por causa do desatino dos homens!
MONAQUINO
In Jornal Notícias de Penafiel, BPMP_IX-2-22(A)_19690509_p.04 Luz de Candeia Velha - Monte de S. Antão.docx

No comments:

Post a Comment